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RADIOGRAFIA DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL



 
Não basta ter no papel um bom plano de educação profissional que atenda às prioridades produtivas vislumbradas para a nação, mas ele tem que antes, e acima de tudo, atender às aspirações dos trabalhadores e das empresas (NERI, p.2, 2012).
[...] 69% daqueles sem educação profissional apontam falta de interesse nos cursos oferecidos, e não falta de cursos (PEREIRA, 2012).
A RADIOGRAFIA NO BRASIL

 
No dia 25 de fevereiro, o jornal "A Gazeta" publicou, na coluna de Merval Pereira, artigo sob o título "Falta de interesse". Nele, o colunista apresenta dados da pesquisa "As razões da educação profissional: olhar da demanda", coordenada pelo economista Marcelo Cortes Neri, e divulgada em 2 de fevereiro deste ano. A pesquisa, segundo o autor, "busca enxergar os dilemas da educação profissional desde a perspectiva dos principais protagonistas da ação, quais sejam: os estudantes". Para ele,
Mesmo se vencermos todas as batalhas para adotar as melhores práticas educacionais, perderemos a guerra caso as mesmas não contem com a consciência, concordância e ação destes atores. O desafio aqui não é só enxergar com os olhos dos estudantes potenciais e egressos através de bases de dados que examinam as suas motivações para o binômio frequentar/concluir a escola técnica, mas também fazê-los enxergar através de indicadores de fácil interpretação, os ganhos incorridos na opção por mais educação em geral (NERI, p. 7, 2012).
Inicialmente, a pesquisa aborda a satisfação dos brasileiros com a educação, mostrando que ela está aquém da satisfação média mundial e, em particular, do grupo de países da América Latina. Assim, utilizando dados do Gallup World Pool, "base de dados representativos das famílias com grande amostra de países" ( NERI, p. 9, 2012), incluindo questões relacionadas às expectativas dos jovens e com informações referentes ao ano de 2006, o autor verificou que 57,77% da população brasileira está satisfeita com o sistema de ensino/escolas, ocupando a 98ª posição entre 129 países avaliados no mundo. O percentual mundial foi de 66,3% de satisfação e da América Latina, de 71,08%. No ano de 2007, o Brasil apresentou percentual de satisfação de 58,57%, contra 69,96% dos países da América Latina.
Indagados se a educação, no País, é accessível para qualquer pessoa que quer estudar, independentemente da sua situação econômica, 50,12% dos entrevistados responderam afirmativamente à pergunta, contra 57,76% no mundo e 56,86% dos entrevistados da América Latina. Na pesquisa, o Brasil ocupou a 15ª posição entre os países do seu entorno, superando apenas a Colômbia, Jamaica, Chile, Peru, Paraguai e Haiti. Em 2007, o Brasil apresentou percentual de 58,54%, contra 60,59% do conjunto dos países da América Latina.
Tratando especificamente da educação profissional e utilizando dados do ano de 2007 do PNAD/IBGE, a pesquisa verificou que, dos 155 milhões de brasileiros com dez anos ou mais, apenas 22,5% já frequentaram um curso de educação profissional, quer seja de qualificação, ou curso técnico de nível médio ou de graduação tecnológica. Entre as pessoas que nunca frequentaram, a falta de demanda foi a justificativa mais apresentada, representando, 82,97% dos casos, superando a falta de oferta de cursos (10,47%) e os outros motivos (6,57%). A falta de demanda foi dividida pelo autor em dois tipos: a falta de interesse intrínseco (68,8%) e a falta de condições financeiras (14,17%). A falta de ofertas, por sua vez, englobou três possibilidades: falta de escola na região (8,64%), falta do curso desejado na escola existente (1,4%) e falta de vagas nos cursos existentes (0,43%).
Focalizando a clientela que cursa a educação profissional, o trabalho aponta a existência de uma correlação positiva entre a demanda por ela e a escolaridade das pessoas, indo de 3% para os não escolarizados, chegando aos 23,55% aos 8 anos completos de estudo e atingindo o máximo, aos 10, 12 anos, com o percentual de 45%. A partir daí, a demanda começa a diminuir, chegando a 31,1% aos 16 anos de estudo e permanecendo estável a partir desse ponto.
Entre as pessoas com até 7 anos de escolaridade, 90,7% não cursaram a educação profissional e, entre aqueles com mais de 7 anos de escolaridade, o percentual apontado foi o de 62,8%. Nos motivos apresentados para não cursar a educação profissional, entre as pessoas com menos de 7 anos de escolaridade, a falta de interesse atingiu o percentual de 67,0%, contra o percentual de 71,85% entre as pessoas que têm mais de 7 anos de escolaridade. Motivos relacionados à renda e a falta de curso foram apresentados, respectivamente, por 14,01% e 11,41% das pessoas com até 7 anos de estudo, enquanto 7,59% apresentaram outros motivos. Entre as pessoas que têm mais de 7 anos de estudo, os motivos relacionados à renda foram apontados por 14,31%, enquanto os relacionados à falta de curso, por 8,92%. 4,92% apresentaram outros motivos.
Considerando a relação entre a demanda por curso de educação profissional e idade, o trabalho aponta que cerca de 3,81% da população de 10 anos ou mais de idade frequenta alguma instituição que ministra tais cursos. Dos 10 anos aos 16 anos, a taxa de frequência cresce de 2,3% a 10,24%, caindo, a partir desse ponto, e atingindo o percentual de 3,88% quando considerada a população de 30 anos de idade.
Foi feita, também, uma análise de grupos em determinadas faixas etárias, concluindo-se que, a partir da faixa de 10-14 anos, há uma redução progressiva: na faixa de 15 a 19 anos, a taxa de frequência é de 9,0%; na faixa de 20 a 24 anos, é de 6,0% e, na de 25 a 29 anos, de 4,4%. A partir daí, as taxas continuam decrescendo, atingindo 3,8% na faixa de 30 a 35 anos. Na faixa da população com 60 anos ou mais, a taxa é de 0,82%.
Quando analisado, isoladamente, o comportamento da população de 15 a 29 anos, "população considerada jovem pelas políticas públicas" (NERICI, 2012), o estudo aponta uma redução no percentual de pessoas que nunca frequentaram cursos profissionais: enquanto na população de maiores de 10 anos, o percentual atingido foi o de 77,5%, na população jovem, o percentual encontrado foi o de 71,0%. Mas a demanda continua sendo o motivo mais apresentado para a não frequência: 82,08%, sendo que 18,25% apontaram a falta de recursos financeiros e 63,83% a falta de interesse; 12,96% apontaram a falta de escola e 4,96% outros motivos.
Conclui, ainda, o estudo que, enquanto entre a população com 10 anos ou mais, o percentual de frequentadores da educação profissional é de 3,81%, ao se analisar a população jovem, de 15 a 29 anos, esse número sobe para 6,56%. Segundo o estudo, "isso se dá, em virtude desse grupo ter um enfoque maior à educação profissional em relação ao grupo de 10 anos ou mais de idade, pois está iniciando a sua trajetória profissional ou entrando no mercado de trabalho" (NERICI, 2012, p. 33).
Com relação à diferença entre o sexo dos jovens de 15 a 29 anos, o estudo concluiu que o sexo feminino frequenta mais a educação profissional (6,9%) que o sexo masculino (6,2%), apresentando, também, entre os motivos de "não frequência" um percentual menor de falta de interesse (60,3%) do que o sexo masculino (62,6%). Por outro lado, as questões relacionadas à renda afetam mais o sexo feminino (18,44%) do que o sexo masculino (16,8%).
Outro dado importante enfatizado pelo estudo foi a diferença entre a frequência na educação profissional entre as mulheres, com idade entre de 15 a 29 anos que têm prole e as que não têm: entre as primeiras, o percentual foi de 3,9%, enquanto entre as demais foi de 8,8%. Para o grupo de 30 anos ou mais, a relação da taxa de atendimento é 2,3% e 3,4%, respectivamente.
Da mesma forma, comparanando-se os jovens do sexo masculino que possuem responsabilidade de chefe de família com aqueles que não possuem, a diferença entre os percentuais de frequência ao ensino profissional apresenta diferença significativa: 4,3% contra 8,3%.
O estudo ainda concluiu que, tanto com relação aos jovens de 15 a 29 anos, quanto com relação à população de 30 a 60 anos, quanto mais alta é a classe econômica, maior é a taxa de frequência em instituições de ensino profissional, à exceção da passagem da classe C para a classe AB, entre os jovens de 15 a29 anos. Na faixa etária de 15 a 29 anos os números comportaram-se da seguinte maneira: na classe E, o percentual de frequência foi de 3,85%, na classe D, de 5,56%, na classe C, de 7,99% e, na classe AB, de 7,13%. Na faixa etária de 30 a 60 anos, os percentuais foram: na classe E, de 1,33%, na classe D, de 1,56%, na classe C, de 2,41% e, na classe AB, de 3,18%.
Analisando as motivações para a não frequência a cursos de educação profissional, pela clientela considerada jovem, em todas as classes sociais, a falta de interesse apresentou os maiores percentuais, crescentes à medida que cresce também a classe social: na classe E, foi de 52,3%, na classe D, de 55,67%, na classe C, de 64,39% e na classe AB, de 82,16%.
A falta de escolas com curso de educação profissional na região foi mais indicada como motivo pelas classes E (16,43%) e D (11,15%). A classe C apresentou o percentual de 5,68% e a classe AB de 2,03%.
O comportamento foi similar quando analisado o número de pessoas que alegou, como motivação para a não frequência, a falta de vaga no curso: na classe E, 0,83%, na classe D, 0,93%, na classe C, 0,82% e, na classe AB, 0,18%.
Na análise da justificativa de que não havia o curso desejado, a classe C apresentou o maior percentual (2,48%) seguido da classe AB (2,38%). As classes E e D apresentaram, respectivamente, os percentuais de 1,69% e 2,07%.
E por que a falta de interesse das pessoas pela educação profissional, quando estudos têm demonstrado o impacto positivo que ela proporciona na vida profissional daqueles que a frequentam?
Recentemente, no mês de setembro de 2011, foi realizado seminário, em Curitiba e Goiânia, promovido pela Fundação Itaú Social e denominado "Seminário de Avaliação Econômica do Ensino Médio Profissional", em que foram discutidos os resultados de uma pesquisa que, utilizando-se de dados do PNAD 2007 e do Censo Escolar 2007, avaliou o efeito, sobre o salário dos indivíduos que trabalham, de se concluir o ensino médio profissional, em relação ao ensino médio comum. Uma das conclusões é que os jovens com diploma do ensino médio profissionalizante têm salários, em média, 12,5% maiores do que aqueles que cursaram o ensino médio regular.
O impacto é ainda maior para aqueles que concluíram cursos na área industrial, chegando a 18,8%. Para as pessoas que optaram por cursos na área agropecuária, o impacto é de 12,5% e na área de serviços, de 9,3%.
Também Marcelo Neri (2012, p.17) apresentou, no trabalho já citado, os impactos trabalhistas da educação profissional, analisando as variáveis ocupação, formalização e salários. No que diz respeito à ocupação, segundo ele, as chances de uma pessoa da população em idade ativa com formação profissional concluída é 48,2% maior que outra pessoa sem esses cursos, mas com características observáveis iguais. E essa tendência positiva tem ocorrido, com algumas flutuações, desde o ano de 2002.
No que tange à formalização, entendida como "variável contribuiu para a previdência", para as pessoas com educação profissional, as chances de formalização são 38,0% maiores do que as daquelas sem a formação. Neste estudo, a diferença salarial entre as pessoas com educação profissional e as demais é de 12,94%.
E conclui o trabalho:
As pessoas que frequentaram cursos apresentam em geral melhores resultados trabalhistas que os demais, por exemplo: uma taxa de ocupação de 71,6% contra 53,1% e um salário médio mensal de R$845,00 contra R$434,00. Agora há uma clara hierarquia entre os resultados obtidos pelos diferentes níveis de educação profissionalizante, a saber: salário de R$742,00 para qualificação profissional, R$1258,00 para técnicos de nível médio e R$2.680,00 para tecnólogos de nível superior (NERI, 2012, p. 24).
Em 2009, o Ministério da Educação, através da Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica – SETEC/MEC apresentou a Pesquisa Nacional de Egressos dos Cursos Técnicos da Rede Federal de Educação Profissional e Tecnológica (2003-2007), que teve como objetivo "analisar o nível de empregabilidade dos egressos, como também a avaliação destes da formação técnica recebida, incluindo a forma como eles percebem a relação entre sua formação técnica e diversos aspectos do mundo do trabalho e a trajetória dos mesmos em relação à continuidade dos estudos após a conclusão do curso técnico" (MEC, 2009, p. 34).
Nele, verificou-se que 72,0% dos egressos dos cursos técnicos da Rede Federal de Educação Profissional e Tecnológica no Brasil estavam inseridos no mercado de trabalho. Dos egressos que trabalhavam, 44% atuavam na área de sua formação, enquanto 21% em áreas correlatas. 86,0% dos egressos expressaram um alto grau de satisfação com a sua situação profissional, sendo que 27,0% se sentiam muito satisfeitos e 54,0% satisfeitos. Segundo a pesquisa (p.21), um fator que contribuiu para o elevado grau de satisfação dos egressos com sua atuação profissional foi a remuneração: 11,0% ganhavam acima da média do mercado e 54,0% na média.
Assim, é incontestável o fato de que a educação profissional e tecnológica acelera a entrada no mercado de trabalho, além de propiciar salários considerados pelos egressos como satisfatórios, e, muitas vezes, acima da média do mercado. O que é necessário para que as pessoas, sobretudo os jovens, optem por essa modalidade de ensino, é o conhecimento de como o mercado de trabalho tem remunerado as diferentes opções oferecidas, em termos de empregabilidade, ganhos salariais, oportunidades de acesso a novas tecnologias, oportunidades de continuidade dos estudos, entre outros. Mas, é necessário, também, que as políticas, sobretudo as públicas, de oferta desses cursos, levem em consideração as expectativas da clientela e as necessidades do mercado de trabalho, as potencialidades de cada região, diversificando a oferta de modo a cobrir o maior número possível de áreas do conhecimento.

 
A RADIOGRAFIA NO ESPÍRITO SANTO

 
Em 18 de fevereiro, publicamos neste blog artigo sob o título "Educação profissional: ontem e hoje ou a Educação profissional no Espírito Santo", motivada pelo artigo publicado no jornal "A Gazeta" do dia 31 de dezembro de 2011, intitulado "A
educação profissional", de autoria do presidente do Conselho Estadual de Educação, Artelírio Bolsanello. Nele, o autor afirma que
Se pudéssemos analisar a natureza dos cursos técnicos ofertados no ES, chegaríamos à conclusão de que os critérios que hoje determinam a sua
oferta não são os sonhos do aluno, não são as potencialidades e vocação da região, nem, tampouco, um projeto político de melhoria da qualidade na formação de nossos técnicos (BOLSANELLO, 2011) (os grifos são nossos).
Com o lançamento da pesquisa coordenada pelo economista Marcelo Neri, tivemos a curiosidade de verificar qual foi a situação da educação profissional no Espírito Santo nela detectada, tendo em vista a avaliação feita no artigo mencionado.
Segundo a pesquisa, o Distrito Federal é a unidade da federação com maior proporção de pessoas que possuem algum curso profissional (31,13%), seguido pelo Paraná (28,07%) e Rio Grande do Sul (25,92%). Três estados nordestinos apresentam as menores proporções: Alagoas, Pernambuco e Maranhão, com percentuais de 7,69%, 11,31% e 12,64%, respectivamente. O Estado do Espírito Santo ocupa a 10ª posição neste ranking, com um percentual de 20,61%. Na Região Sudeste, ocupa a 2ª posição, só superado pelo Estado de São Paulo, com 23,23%. Quando a pesquisa apresenta o ranking por capitais, o Espírito Santo passa a ocupar a 3ª posição, com um percentual de 31,88%, só superado pelo Rio Grande do Norte, com 37,71%, e Paraná, com 34,64%.
Analisando o salário médio das pessoas que possuem curso profissional, o Distrito Federal lidera mais uma vez, apresentando salário médio de R$1403,10. O menor salário é o do Estado da Paraíba: R$484,09. O Espírito Santo ocupa a 8ª posição, com salário médio de R$873,62 e a terceira posição na Região Sudeste. As primeiras posições da região foram ocupadas por São Paulo (R$1003,95) e Rio de Janeiro (R$901,14). O Estado de Minas Gerais apresentou salário médio de R$789,65. No ranking por capitais, o Espírito Santo apresentou o melhor salário médio: R$1724,21. Nas outras capitais da Região Sudeste, os salários médios foram: São Paulo: R$1169,15; Rio de Janeiro: R$1147,61 e Minas Gerais: R$1090,72.
Quando analisado o salário-hora médio, o Distrito Federal continua a ocupar a 1ª posição (R$11,61), mas os segundo e terceiros lugares passam a ser ocupados pelo Rio de Janeiro e Espírito Santo, com salários-hora médios de R$8,52 e R$8,12, respectivamente. No ranking por capitais, o Espírito Santo ocupa a 1ª posição, com salário-hora médio de R$12,46. Nas outras capitais da Região Sudeste, os salários-hora médios foram: Rio de Janeiro: R$10,57; Minas Gerais: R$9,42 e São Paulo: R$9,28.
Com relação aos percentuais de ocupação das pessoas que possuem curso de educação profissional, o Estado de Santa Catarina é o que apresenta o maior percentual (80,45%), seguido pelos estados do Paraná (76,23%) e Goiás (75,23%). Paraíba, Pernambuco e Rio de Janeiro apresentam os menores percentuais: 62,65%, 65,60% e 66,54%, respectivamente. O Estado do Espírito Santo ocupa a 11ª posição, com o percentual de 72,39% de taxa de ocupação no País e a 2ª posição na Região Sudeste, só superado pelo Estado de Minas Gerais com 73,56% de taxa de ocupação ( 8ª posição).
No ranking por capitais, o Espírito Santo continua ocupando a 11ª posição, com 72,05% de taxa de ocupação, percentual superado por Minas Gerais com 72,62%. São Paulo l) apresentou uma taxa de 69,74% e Rio de Janeiro de 66,76%.
Analisando o que chamou de "Geografia do casamento (e divórcio) trabalho e educação profissional", a pesquisa apresentou, para cada unidade da federação, o percentual de pessoas que trabalham ou trabalharam na mesma área de formação, dando destaque ao Estado de Santa Catarina com 58,98%, seguido pelos estados de Rio Grande do Sul (58,69%) e Goiás (56,72%). No extremo oposto, o Estado da Paraíba apresentou um percentual de 39,48%. O Estado do Espírito Santo ocupou a 7ª posição no País, com percentual de 53,13%, o maior da Região Sudeste. No ranking por capitais, o Espírito Santo ocupa a 10ª posição, superado, na Região Sudeste, por Minas Gerais e São Paulo, que apresentaram os percentuais de 59,80% e 56,63%, respectivamente. No Rio de Janeiro, 54,37% das pessoas que cursaram educação profissional trabalharam ou trabalham na área.
Considerando os motivos expressos pela população para a não frequência a cursos de educação profissional, o trabalho apresentou os rankings regionais para cada um deles.
Focalizando a faixa etária de 15 a 29 anos e o motivo "falta escola com educação profissional na região", a Bahia apresentou o maior percentual (23,33%) e o Amapá, o menor (2,12%). O Espírito Santo ocupou a 9ª posição com 6,52% de pessoas que apresentaram tal justificativa, ocupando a 3ª posição quando se analisa a Região Sudeste: no estado do Rio de Janeiro, 2,96% de pessoas apresentaram tal justificativa; em São Paulo, 3,40% e, em Minas Gerais, 7,76%. Quando foram consideradas na análise as capitais, no Espírito Santo, 4,03% dos respondentes optaram por esta justificativa, ocupando a 22ª posição no País e a 4ª na Região Sudeste. Os outros resultados obtidos na região foram: São Paulo, 2,07% (15ª posição); Minas Gerais, 1,68% (11ª posição) e Rio de Janeiro, 1,51% (10ª posição).
Na justificativa "falta de recursos, pois a escola é paga", o Amapá apresentou o maior percentual (32,02%), enquanto o Acre apresentou o menor (7,81%). O Espírito Santo ocupou a 20ª posição, com o percentual de 19,55%. Na Região Sudeste, só o Estado de São Paulo apresentou resultado pior: 19,83%, enquanto Minas Gerais apresentou o percentual de 18,28% e o Rio de Janeiro, de 9,62%, o 3º melhor resultado. Analisando apenas as capitais, o Espírito Santo obteve 6,71% de respostas, ocupando a 2ª posição nacional, seguido, na Região Sudeste, pelo Rio de Janeiro, com 7,76%, Minas Gerais com 18,44% e São Paulo com 19,50%.
Quanto à justificativa "falta de interesse", foi no Estado do Rio de Janeiro que houve a sua maior ocorrência (76,82%), enquanto a menor foi no Estado da Bahia (46,72%). O Espírito Santo apresentou o melhor resultado da Região Sudeste e o 11º se considerarmos todas as unidades da federação (56,27%). Entre as capitais, o Espírito Santo ocupou o 21º maior percentual de pessoas que não cursam a educação profissional por falta de interesse, com 74,08%. Na Região Sudeste, ele foi superado pelo Estado do Rio de Janeiro, com 82,20%. São Paulo apresentou o percentual de 69,18% e Minas Gerais de 69,06%.
Analisando a distribuição da resposta "falta de vaga no curso", a pesquisa identificou que o Amapá apresentou o maior percentual com 3,35%, enquanto o Estado de Alagoas apresentou o menor: 0,12%. No Espírito Santo, 0,84% dos respondentes optaram por esta justificativa, o 18º maior percentual do País e o 3º maior da Região Sudeste: Minas Gerais apresentou percentual de 0,72%; São Paulo de 0,77% e Rio de Janeiro de 1,20%. Já entre as capitais, o Espírito Santo apresenta o 23º maior percentual (1,34%). Nas demais capitais da Região Sudeste, os percentuais foram: Minas Gerais, 0,67%, São Paulo, 0,60% e Rio de Janeiro, 0,59%.
Na justificativa "não havia o curso desejado", o Estado do Mato Grosso obteve o maior percentual de respostas (6,99%) e o Estado de Alagoas, o menor (0,87%). No Estado do Espírito Santo 2,01% dos respondentes optaram por esta justificativa, a 10ª posição no País e a 3ª na Região Sudeste: São Paulo obteve 1,16% de respostas (3ª posição), Minas Gerais, 1,76% (7ª posição) e o Rio de Janeiro, 2,02% (11ª posição). Considerando apenas as capitais, o Espírito Santo não obteve respostas com esta justificativa, enquanto São Paulo obteve 0,46% de respostas, Minas Gerais, 0,81% e Rio de Janeiro, 1,17%.
Postos esses resultados, analisemo-los à luz do artigo do professor Artelírio Bolsanello, buscando encontrar conclusões convergentes, considerando, no entanto, que, se compararmos os dados obtidos em cada um dos estados da federação, a proporção de pessoas que cursaram a educação profissional no Espírito Santo, o salário médio e o salário-hora médio, a taxa de ocupação, bem como a proporção de pessoas que trabalham ou trabalharam na mesma área de formação, os dados apresentados parecem demonstrar um saldo positivo da educação profissional no Estado.
No entanto, quando analisados os rankings dos motivos apresentados pelas pessoas para não cursarem a educação profissional, pode-se concluir, como afirmou o presidente do CEE, que "o Espírito Santo tem muito a fazer para tornar sua oferta motivadora e democrática".
O percentual de pesquisados que optaram pela justificativa "falta escola com educação profissional na região" (6,52%), corrobora a opinião expressa pelo presidente do Conselho Estadual de Educação (CEE), Artelírio Bolsanello de que a oferta é insuficiente, vista que "(...) até agora, somente os jovens de 53 dos 78 municípios capixabas têm acesso a algum curso técnico em seu próprio município" (A Gazeta, 31 dez. 2012, p. 20). E admiramo-nos com o fato de que o percentual de respostas tenha sido significativo também na capital do Estado, ocupando a 22ª posição entre as 27 capitais do País e a última posição na Região Sudeste.
Na justificativa "falta de recursos, pois a escola é paga", mais uma vez os dados obtidos corroboram a afirmação do presidente do CEE:
Não podem nem devem esses critérios definir o curso a ser ofertado, sob pena de essa oferta continuar desinteressante e antidemocrática: de um lado, muita oferta de vagas para poucos (que podem pagar); de outro, pouca oferta de qualidade para muitos (que não podem pagar) (BOLSANELLO, 2012).
Enquanto ao se considerar o Estado como um todo, 19,55% das respostas convergiram para esta alternativa, quando se considera apenas a capital do Estado o percentual é de 6,71%. Na primeira análise, o Estado ocupa a 20ª posição e, na segunda, a 2ª. Esses dados estarão apontando a concentração dos cursos oferecidos por instituições públicas em locais mais desenvolvidos, em detrimento de municípios periféricos?
Na justificativa "falta de interesse", na análise dos dados nacionais, o Espírito Santo parece ocupar uma posição privilegiada: entre 27 estados, a sua posição é a 11ª. Mas, quando analisada a incidência dessa justificativa na Capital do Estado, a sua posição passa a ser a 21ª, representando um percentual de 74,08%. Por que o desinteresse pela educação profissional quando os dados demonstram, e esses dados são amplamente divulgados na imprensa, os ganhos trabalhistas dos portadores de certificados da educação profissional? Os cursos técnicos ofertados não são aqueles com que os alunos sonham, conforme afirmação do presidente do CEE? As áreas abrangidas não atendem às necessidades e os desejos da possível clientela? Falta uma maior divulgação da importância da educação profissional para o jovem e para o desenvolvimento da economia? Falta uma maior abrangência na definição das áreas a serem ofertadas na educação profissional? Parece-nos que as justificativas para esses dados vão além das nossas interrogações, uma vez que, na justificativa "não havia o curso desejado", o Espírito Santo ocupou a 10ª posição, com um percentual de 2,01%, e, na capital do Estado, não foram observadas respostas com opção para este item. Já na justificativa "falta de vaga no curso", os dados coletados não são tão animadores: o Espírito Santo obteve a 18ª posição no País, a 3ª na Região Sudeste, a 23ª entre as capitais e a última entre as capitais da Região Sudeste.
Esses dados demonstram, portanto, que, no Espírito Santo, foco principal desta análise, é necessário que se reforcem as políticas públicas que ofereçam oportunidades de qualificação profissional em todos os níveis, de forma a abranger uma grande diversidade de cursos, com temas relacionados às necessidades de cada região. E que todos os municípios sejam atendidos. No entanto, é importante que uma das assertivas do economista Marcelo Neri seja levada em consideração. Para ele, os gestores e pesquisadores costumam basear suas decisões e sugestões de políticas públicas seguindo a perspectiva da oferta e não de demanda, esquecendo, frequentemente, "que o derradeiro teste da política pública se dá na sua aceitação, ou não, pela respectiva clientela final" (NERI, p.2, 2012).

 
BIBLIOGRAFIA:
BOLSANELLO, Artelírio. A educação profissional. A Gazeta, Vitória, 31 dez. 2011, p. 20.
NERI, Marcelo Cortes (Org.). A educação profissional e você no mercado de trabalho. Rio de Janeiro, FGV/CPS, 2010. Disponível em: http://www.fgv.br/cps/proedu/>. Acesso em: 2 mar. 2012.
______. As razões da educação profissional: olhar da demanda. Rio de Janeiro, FGV/CPS, 2012. Disponível em: http://www.fgv.br/cps/senai/>. Acesso em: 2 mar. 2012.
PEREIRA, Merval. Falta de interesse. A Gazeta, Vitória, 25 fev. 2012, p. 28.
BOCCHI, Adnalva; GASPARETTO, Osmar. Os cursos técnicos e a empregabilidade: a análise de sua efetividade do ponto de vista dos alunos e do setor empregador. S.l, S.d. Disponível em: http://www.escoladegoverno.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?..> Acesso em: 15 mar. 2012.
MENEZES FILHO, Naercio; VASCONCELLOS, Ligia; LIMA, Fernanda. Avaliação econômica
do ensino médio profissional. S.l, out. 2011. Disponível em: http://www.ipea.gov.br/agencia/images/.../110822_seminareducario7.pdf>. Acesso em: 30 mar. 2012.
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO (Brasil). Pesquisa nacional de egressos dos cursos técnicos da Rede Federal de Educação Profissional e Tecnológica (2003-2007). Brasília, 2009. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&task...>. Acesso em: 15 abr. 2012.